Boeing 727-100

Enquanto a aviação comercial ainda era dominada por aeronaves a hélice, a Boeing fez uma aposta ousada ao lançar o seu primeiro jato comercial na frente das outras fabricantes americanas. O Boeing 707 se provou um sucesso de vendas, superando o principal rival, DC-8, e colocando a Boeing na posição de líder no segmento de aviação comercial. Se quisesse manter essa posição, a Boeing sabia que precisa continuar investindo em novos produtos. Ainda na década de 1950 a fabricante iniciou os primeiros estudos para um jato complementar ao B707, capaz de operar em pistas menores, como o Caravelle. Após a entrada em operação dos primeiros jatos, como o B707 e DC-8, a popularidade desse tipo de aeronave começou a crescer tanto entre os passageiros quanto entre as companhias aéreas. A medida que a demanda de passageiros aumentava, as companhias aéreas queriam colocar os jatos em rotas médias e curtas, substituindo os antigos aviões a pistão. No entanto o Boeing 707 havia sido pensado para voos longos e não era tão adequado para voos mais curtos. Como uma primeira solução mais rápida, a Boeing desenvolveu uma versão encurtada do Boeing 707, conhecida como Boeing 720. Apesar de ser mais eficiente que o 707 em rotas curtas, por ser derivado de um modelo maior para distâncias mais longas, o B720 não era tão competitivo contra jatos projetados desde o inicio para rotas mais curtas, como o Caravelle, e principalmente contra o Douglas DC-9, que a Douglas estava desenvolvendo nessa época. Para isso a Boeing lançou uma nova aeronave, denominada Boeing 727. Um dos motivos que explicam a Boeing ter "pulado" o nome "Boeing 717" seria o fato que na época o avião militar KC-135 era também conhecido como Boeing 717 e inicialmente o nome Boeing 717 foi utilizado para designar o Boeing 720. Dessa forma, para evitar confusões, a Boeing poderia ter optado por ir direto para o nome Boeing 727, deixando claro que se tratava de um avião totalmente novo.

A fuselagem do Boeing 727 tem as mesmas dimensões do Boeing 707, com uma configuração na classe econômica de seis assentos por fileira (3+3), e é mais curta, com capacidade para pouco mais de cem passageiros em uma configuração típica de duas classes. Uma das decisões mais importantes foi a escolha dos motores, não só o modelo mas também a quantidade e a sua localização. Após diversos experimentos com várias configurações diferentes, foi decidido que os motores ficariam localizados na parte de trás da fuselagem, com uma cauda em T, semelhante ao Caravelle e DC-9. Esse tipo de configuração foi considerado mais adequado para o objetivo do Boeing 727 em operar em aeroportos com pistas menores e despreparadas. Os motores na cauda evitavam que coisas na pista fossem sugadas pelos motores e a cauda em T gera maior controle do avião em velocidades mais baixas.
Uma das principais diferenças em relação ao DC-9 é o fato do Boeing 727 utilizar três motores ao invés de dois. O terceiro motor fornecia potência extra, garantindo que o Boeing 727 conseguisse decolar em pistas curtas. Além disso os três motores permitiam maior flexibilidade operacional, fazendo com que o Boeing 727 pudesse operar rotas mais longas e em regiões remotas sem restrições, e também faziam com que a aeronave tivesse um desempenho melhor em regiões quentes e em altitudes elevadas. Comparado ao DC-9, que utilizada apenas dois motores, o Boeing 727 tinha maior consumo de combustível e manutenção mais cara. Em contrapartida o Boeing 727 podia levar mais passageiros e tinha maior alcance. Os motores do B727 (Pratt & Whitney JT8D) se tornaram os mais vendidos da história na época. Eles também equiparam o Boeing 737-100/200, DC-9 e MD-80.
O Boeing 727 foi equipados com novas asas, projetadas tanto para uma alta velocidade de cruzeiro, quanto para baixas velocidades de aproximação e pouso. A ausência de motores sob as asas permitia que a asa tivesse um fluxo de ar mais limpo, resultando em maior eficiência aerodinâmica e melhor sustentação. Isso também permitiu que os flaps das asas pudessem reduzir ainda mais a velocidade de aproximação da aeronave, garantindo o pouso em pistas menores.
Para ser capaz de operar em aeroportos menores, com pouca ou nenhuma infraestrutura, o B727 foi equipado com uma escada interna na traseira da fuselagem, para embarque e desembarque, e unidade de energia auxiliar (APU), que permite o funcionamento dos sistemas elétricos e ar condicionado independentemente de uma fonte de alimentação em solo.
O cockpit é semelhante ao do Boeing 707, com algumas melhorias e configuração otimizadas para três motores ao invés de quatro. Assim como o 707, a aeronave necessita de um piloto, um copiloto e um engenheiro de voo.

Embora a primeira versão tenha sido denominada como Boeing 727-100, as primeiras unidades produzidas apresentavam apenas o código da companhia aérea. Nessa época cada companhia aérea tinha um código de dois dígitos que era adicionado no final do nome do modelo. Por exemplo: o código da Varig era 41, dessa forma se a Varig recebesse um Boeing 707-320, ele seria denominado Boeing 707-341. Sendo assim se a Varig recebesse um dos primeiros Boeing 727 produzidos, ele seria denominado Boeing 727-41. Entretanto se recebesse unidades produzidas anos mais tarde, o nome seria Boeing 727-141. Apesar da pequena mudança no nome, as aeronaves são exatamente iguais.
Em dezembro de 1960 o Boeing 727 recebeu a sua primeira encomenda: 80 unidades para a United e Eastern. A primeira entrega foi feita para a United, em outubro de 1963, porém o primeiro voo com passageiros foi realizado pela Eastern, em fevereiro de 1964, entre Miami, Washington e Filadélfia. A exemplo do motor, o Boeing 727 bateu todos os recordes e virou o jato mais vendido da história até então, ultrapassando mil unidades produzidas em 1974. A aeronave logo se tornou a preferida das companhias aéreas dos EUA para operar as principais rotas domésticas e rotas internacionais de curta e média distância. Embora o Douglas DC-9 tenha conseguido um bom desempenho de vendas, o Boeing 727 se manteve na liderança por toda a década de 1960 e 1970. Com o lançamento da versão alongada Boeing 727-200 (em 1967) e o lançamento do Boeing 737 (em 1968), as encomendas para a versão 100 começaram a diminuir. O Boeing 737-200 oferecia capacidade de passageiros e alcance semelhante com apenas dois motores, com menores custos e maior economia de combustível. A Douglas também lançou novas versões do DC-9, com maior capacidade de passageiros, diminuindo as vantagens do Boeing 727-100. Sem novas encomendas, a produção do Boeing 727-100 foi encerrada no inicio dos anos 1970.

Como se não bastasse o sucesso no transporte de passageiros, o Boeing 727 também fez um enorme sucesso no transporte de carga. As suas características de poder operar em aeroportos remotos, sem infraestrutura, em pistas curtas foi bastante valorizada também para o transporte de carga. Os seus três motores garantem que o Boeing 727 possa levar mais carga e tenha melhor performance em diferentes climas e regiões. Embora não tenha sido disponibilizada um versão puramente cargueira, muitos 727-100 para passageiros foram convertidos em cargueiros, sendo denominados como Boeing 727-100F (Freighter). Já a versão Boeing 727-100C (Conversível) tem uma porta de carga adicional e piso reforçado, podendo ser adaptada para o transporte de carga ou passageiros ou misto (uma parte passageiros e outra parte carga). Também foi lançada a versão Boeing 727-100QC (Quick Change), que permite que a conversão da aeronave para transportar carga ou passageiros seja feita em apenas 30 minutos. A versão Boeing 727-100QF (Quiet Freighter) é uma modificação posterior para adaptar a aeronave para requisitos ambientais mais rigorosos relacionados ao ruído dos motores. Além do setor cargueiro, a aeronave também foi muito popular na aviação executiva, como aeronave de luxo para empresários, executivos e artistas.
No Brasil a
Varig foi a primeira companhia aérea a operar o Boeing 727-100, em 1970. A TransBrasil recebeu o primeiro B727-100 em 1974 e se tornou a maior operadora do modelo na América Latina na época, com uma frota de 22 unidades. Nos anos 1990 eles foram substituídos pelos Boeing 737 e passaram a operar como cargueiros. O último Boeing 727-100 do país foi aposentado pela Varig Log nos anos 2000.

Operadoras no Brasil: Cruzeiro, Itapemirim Cargo, TransBrasil, Varig, Varig Log

Ralf Manteufel


 

Origem: Estados Unidos
Produzido: 1963 - 1972
Comprimento:
40,59 m
Envergadura: 32,92 m
Altura: 10,36 m
Peso da aeronave: 45 toneladas
Peso máximo decolagem/pouso: 64-76/59-62 toneladas
Motores:
3x Pratt & Whitney JT8D-1
Empuxo: 18 (2x 6) tonf
Capacidade de combustível: 31,8 mil litros
Velocidade de cruzeiro: 965 km/h (mach 0.81-0.89)
Velocidade máxima: 1000 km/h (mach 0.91)
Altitude de Cruzeiro: 12 km (40 mil ft)
Pista mínima para decolagem: 1,7 km
Alcance: 3829-5391 km
Passageiros: 106 a 132
2 Classes: 90 a 116
1 Classe: 114 a 144

Tripulação: 7
Primeiro voo: 9 de fevereiro de 1963
Concorrentes: DC-9,
Caravelle
Substituído por: Boeing 737, MD-80, Família A320
Companhia Lançadora: United e Eastern
Maior operador (encomendas diretamente do fabricante): United
Capacidade de carga: 17,237 toneladas
Comparar com outras aeronaves

 
Modelo: Construídos: Acidentes:
B727-100 294 32
B727-100C 164 15
B727-100F 114 10
TOTAL: 572 57

 


 

Boeing 727-200

Com o sucesso da primeira versão, a Boeing deu uma esticada no B727, criando o Boeing 727-200. A versão 200 tem uma fuselagem mais comprida, capaz de levar mais passageiros, e maior peso máximo de decolagem, porém o seu alcance é menor. Essa versão também incorpora motores mais potentes e mantém a mesma asa da versão 100.
O primeiro Boeing 727-200 entrou em operação em dezembro de 1967, pela Northwest. A medida que a demanda de passageiros aumentou, mais companhias aéreas começaram a se interessar pela versão 200, com maior capacidade de passageiros e menor custo por assento. Na década de 1970 quando os bimotores, como o Boeing 737 e DC-9, já ofereciam uma capacidade de passageiros similar ao Boeing 727-100, o B727-200 ainda não tinha um concorrente a altura e se tornou a versão mais popular do Boeing 727, ultrapassando a versão 100 no número de unidades produzidas. No entanto uma das deficiências dessa versão era o seu menor alcance, fazendo com que o 727-200 não conseguisse operar rotas mais longas operadas pelo seu irmão menor.
Em 1970 foi lançado o Boeing 727-200 Advanced, com melhorias aerodinâmicas, maior peso máximo de decolagem, cabine melhorada, novos motores e maior capacidade de combustível, consequentemente aumentando o alcance. Assim que foi lançada, a versão Advanced se tornou a preferida e substituiu a versão básica B727-200, que não recebeu mais nenhuma encomenda. As primeiras unidades do B727-200 Advanced começaram a ser entregues em 1972 e continuaram a ser produzidos até a década de 1980. Com o aumento no preço do petróleo e o lançamento de bimotores cada vez maiores, mais econômicos e eficientes, como o MD-80, as companhias aéreas começaram a perder o interesse no Boeing 727-200, com alto custo operacional e maior consumo de combustível. A Boeing chegou a propor uma versão ainda maior, denominada Boeing 727-300, o que diminuiria o custo por assento. Porém as companhias aéreas queriam um projeto novo, com uma economia de combustível mais agressiva.
Assim como a versão 100, o Boeing 727-200 conseguiu uma longa sobrevida no mercado cargueiro. Em 1981 a Boeing lançou a sua versão puramente cargueira, denominada Boeing 727-200F (Freighter), baseada na versão Boeing 727-200 Advanced. Essa versão possuí fuselagem reforçada, novos motores, porta de carga e não possuí janelas. Além das unidades vindas diretamente de fábrica já como cargueiros, muitas unidades das versões de passageiros foram convertidas para cargueiros, sendo também denominados Boeing 727-200F.
A produção do Boeing 727 foi encerrada em 1984, quando entrou em operação o seu substituto Boeing 757. Ao encerrar a produção haviam sido vendidos quase 2 mil unidades, o jato comercial mais vendido do mundo até ser ultrapassado pelo Boeing 737 em 1990.
No Brasil a primeira companhia a operar o Boeing 727-200 na versão de passageiros foi a Vasp, em 1975. Nos anos 1980 eles foram substituídos pelos A300. A partir dos anos 1990 os Boeing 727-200 voltaram a operar no Brasil em diversas companhias cargueiras e também em companhias de fretamentos. Em 2024 a Total Cargo operou o último voo com um Boeing 727-200 no Brasil.

Operadoras no Brasil: Air Brasil, Air Vias, Ata, Cruzeiro, Digex Cargo, Fly, Itapemirim Cargo, RIO, Taf, TNT Sava, Total Cargo, Varig Cargo, Varig Log, Vasp, Vaspex, Via Brasil

Boeing 727-225/Adv aircraft picture
Boeing


 

Origem: Estados Unidos
Produzido: 1967 - 1984
Comprimento:
46,69 m
Envergadura: 32,92 m
Altura: 10,36 m
Peso da aeronave: 45,3 toneladas
Peso máximo decolagem/pouso: 95/73 toneladas
Capacidade de combustível: 37 mil litros
Motores:
3x PW JT8D  / P&WJT8D-17 (727-200ADV)
Empuxo: 18-24 (3x 6-8) tonf
Velocidade de cruzeiro: 965 km/h (mach 0.81-0.89)
Velocidade máxima: 1000 km/h (mach 0.91)
Altitude de Cruzeiro: 12 km (40 mil ft)
Pista mínima para decolagem: 3,0 km
Alcance: 2750-4020 km / 3515-4720 km (727-200ADV)
Passageiros: 140 a 180
2 Classes: 142 a 158
1 Classe: 160 a 189

Tripulação: 8
Configuração dos assentos: 2+2 (primeira classe) / 3+3 (classe econômica)

Primeiro voo: 27 de julho de 1967
Concorrentes: Douglas DC-9-50
, Tupolev Tu-154, Hawker Siddeley Trident
Substituído por: Boeing 757, Boeing 737, MD-80, Airbus A310, Família A320
Companhia Lançadora: NWA
Maior operador (encomendas diretamente do fabricante): United
Comparar com outras aeronaves

Modelo:

Construídos: Acidentes:

B727-200

874 60

B727-200F

386 14

TOTAL:

1260 74

 

 

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